Um elemento parece romper toda a ordem imposta pelas sete fileiras horizontais de brises verticais oblíquos que percorrem, ligeiramente sobressalientes, as duas fachadas da esquina do edifício: uma grande janela quadrada de vidro composta por nove módulos quadrados menores, subdivididos em quadrados ainda menores. Está localizada no centro da fachada norte, a mais extensa, e avança pelo pavimentos 8 e 9, os últimos a compor o corpo principal do edifício, sendo o segundo um mezanino do primeiro.
Seu estranhamento é enfatizado, em primeiro lugar, por uma fileira de brises -similares aos dos pavimentos inferiores, porém com menor altura e menor espaçamento entre eles- que percorre o pavimento 9 da mesma fachada. Tal fileira é interrompida pela presença daquela janela, precisamente pelos seus três módulos superior, embora sem muita continuidade com eles. A opacidade da fachada norte do pavimento 8 também é interrompida por aquele elemento, por seus outros seis módulos. A linearidade tanto dos brises do pavimento 9 como da opacidade do pavimento 8 é rompida por aquele elemento.
Em segundo lugar, aquela janela é o único elemento quadrado presente na composição visual, à diferença da marcação horizontal dos pavimentos inferiores através de brises que ocupam toda sua altura. No entanto, há um aspecto do edifício que provem da forma quadrada: sua modulação estrutural de 7 x 7 metros.
Em terceiro lugar, ela é a única abertura do corpo principal do edifício a ser posta diretamente sobre a fachada, sem nenhum tipo de proteção solar, permitindo a entrada direta da luz solar no seu pavimento duplo.
Em quarto lugar, a janela parece criar uma série de contrastes com as letras “A B I” postas sobre a parede cega da fachada oeste dos pavimentos 8 e 9. A fachada principal do edifício parece ser a vista em escorço da esquina, mas com uma leve prioridade da porção norte, por ser a mais extensa e por ser nela que está localizado o hall aberto dos elevadores, acesso principal ao edifício. No lado menor, secundário, as letras “A B I”, a sigla da instituição que contém seu peso; no lado maior, uma janela quadrada.
Porém, enquanto a janela está centralizada horizontalmente em relação à fachada norte, a sigla ABI não o está em relação à fachada oeste. Foi disposta ligeiramente mais próxima à esquina. Tampouco está centralizada verticalmente em relação à faixa opaca da parte superior do corpo principal do edifício. Parece ocupar a altura do pavimento 8, estando, assim, sugestivamente alinhada aos seis módulos inferiores da janela da fachada norte.
Percebe-se, então, outra interrupção: sendo o escorço da esquina a fachada principal do edifício, a faixa horizontal de brises do pavimento 9, além de fragmentada pela presença da janela, não mantém sua continuidade no lado oeste. E do mesmo modo que a janela quebra a homogeneidade da faixa opaca do pavimento 8 no lado norte, o letreiro ABI o faz no lado oeste.
Em quinto lugar, a janela parece se estender pelo interior do pavimento 8. Os fechamentos internos protegidos pelos brises são feitos pela mesma sub-modulação de vidros que formam os módulos da janela quadrada, imperceptíveis externamente.
Em sexto e deliberadamente último lugar, a janela não é quadrada. Seus três módulos inferiores não são quadrados. A faixa horizontal de brises do pavimento 9, assim como os três módulos superiores da janela, partem com uma leve diferença em relação ao nível do teto do pavimento. A faixa opaca superior à faixa de brises corresponde ao guarda-corpo do terraço superior. A janela “quadrada” ocupa a largura do módulo estrutural central, em continuidade com o hall dos elevadores, e, ainda com o pé-direito duplo do pavimento, não alcança os mesmo sete metros em altura. Parece haver sido feita para ser quadrada, porém, mesmo não podendo ser, continua a ser vista como tal.
A chegada à esse pavimento deve possuir o mesmo estranhamento que aquele elemento gera na fachada em escorço do edifício: um grande ofuscamento pela alta luminosidade permitida pela janela, determinando o modo e o tempo para a experimentação do espaço, uma planta livre permeada por pilares, uma grande altura que abriga um mezanino. Uma referência: Villa Schwob, Le Corbusier, 1916.